Rio do rastro marathon

By Updated on:

Criar uma corrida, deixar um legado e despertar desejo de corredores para participarem e muitas vezes quererem voltar ao evento não é exatamente uma coisa fácil de se fazer. Coloque uma pandemia no meio disso tudo e as incertezas sobre a própria realização dos sonhos já fica comprometida. No caso especificamente da Rio do Rastro Marathon, ela foi por duas vezes adiada que causa ainda mais traumas, incertezas e prejuízos financeiros ou mesmo a desculpa para esmorecer diante do sonho e dizer que foi a pandemia,

Apesar de tudo isso, no meio do ano pareceu ser possível a realização da prova que em outra ponta tinha uma infinidade de atletas também com seus problemas, ansiedade e abstinência por corridas e sua terapia mental. Ainda que muitos não as percebessem.

A Serra do Rio do Rastro é o terceiro elemento do componente. O mais indomável. Viva por si só, provou os atletas como os próprios organizadores da prova fazendo com que tivessem que colocar de volta ao chão a estrutura já montada no dia anterior da largada dos 25k durante chuva e forte ventania. A tensão estava no ar. Todos estavam se provando e precisando provar o desejo de realização dessa experiência.

Obras na Serra delimitava horário em que poderiam passar para trabalhar. Fácil todo mundo sabia que não seria, mas ninguém deve ter imaginado quanto foi difícil colocar esse sonho de pé, mas enfim, era dada a hora de se por a prova à prova.

A largada foi no paredão de Orleans que de imediato conectava os corredores à natureza. A organização soube através de um minuto de silêncio e exercícios de respiração conectar todos envolvidos. muitos estavam visivelmente emocionados e felizes de participarem desse momento histórico. O clima era completamente propenso. Inclusive o meteorológico. Era hora de desfrutar uma maratona depois de pelo menos dois anos para a absoluta maioria dos participantes.

Cerca de 300 metros de prova e já se tinha uma subida que é a tônica da prova. Subir para garantir a sua medalha. Você só precisava fazer a sua parte pois a organização da Rio do Rastro Marathon lhe entregava todo o suporte necessário incluindo desde o início ambulância e banheiros químicos. A hidratação logo surge também, sem contar os moradores de Orleans incentivando quem se propunha a buscar a medalha da primeira edição. Até uma cachorrinha correu conosco por alguns bons metros mas voltamos a falar dela mais para frente.

Os corredores começam a se dissipar, assim como a euforia inicial da prova. É hora de se concentrar para a Serra e começar a fazer contas para a linha de corte no quilômetro 29,5k. Em teoria, um tempo confortável de 4h29m59 apesar de cerca de 1000m de altitude até aí. Segundo a organização da prova, o corte é para própria segurança e preservação dos atletas que vão sofrer além da conta se não se alcançar tal ponto no tempo proposto.

Aliás, o ponto de corte na verdade é um afago à alma para quem o alcança dentro do tempo e é recepcionado por uma infinidade de recursos para o atleta recuperar alguma energia. Por ali se tinha água, refrigerante, isotônico, gel, frutas, batata frita, amendoim, barra de proteína, sucos. Era tanta coisa que tenho certeza que posso ter esquecido "alguns itens".

Passado esse trecho, era hora de enfrentar a desejada Serra do Rio do Rastro que agora apertava a altimetria enquanto a direção de prova intensificava seu suporte até mesmo com staff que incentivava aqueles atletas que começavam a sentir o peso da missão. Isso incluía carros passando de um lado para o outro para monitorar a situação de cada atleta. Menção especial ao Ricardo da direção da prova que passava com a medalha pendurada no carro gritando para os atletas irem buscar a deles. Momentos engraçados para se quebrar a tensão do desafio pois nesse momento, já era visível o sofrimento físico de alguns atletas.

Próximo alvo mental era a santinha do quilômetro 35. Até aí você ainda encontrava um ou outro trecho curto de terreno plano. Dali para frente era uma espécie de "quem correu, correu. Quem não correu, não corre mais".

Entra-se na famosa serpente das fotos e a altimetria realmente se impõe mostrando que para se tornar um Guardião da Serra, terás que provar o seu valor, e claro, até ela resolve testar os candidatos com muito vento contra. Exatamente quando para muitos correr se torna uma missão difícil, É visível nos olhos e corpos que muitos estão no limite. Temos que lembrar que falando de maratona no plano, temos o tal da paredão do quilômetro 30. Imagine nessas circunstâncias.

Por mais que tenha lido ou ouvido falar sobre a Serra do Rio do Rastro, você não compreenderá tudo. Só passando para literalmente sentir na pele, na alma, nas pernas e muitas vezes nos olhos marejados o quão desafiador são esses 42,195 metros.

O último quilômetro no entanto é projetado pela natureza para que você volte a correr. Uma centena de pessoas incentivando, aplaudindo e a maravilhosa sensação de cruzar um pórtico de chegada de uma maratona. Ou melhor, da Rio do Rastro Marathon, Sem sombras de dúvida a maratona mais difícil do Brasil.

Os Guardiões que se tornavam dignos do desafio, uma calorosa recepção onde você praticamente era abraçado por uma belíssima toalha disponibilizada pela direção de prova. Uma medalha ostentação e o mimo da camiseta finisher (sem contar no kit pós prova e suporte técnico necessário).

A Corre Brasil e a Mountain Do acabavam sendo coroados também pelos atletas. Vale lembrar que o recorte que dou de uma prova é sempre no local/tempo em que passei e algum problema não visto por mim, pode ser reclamado por algum participante, mas, em meio à dores e lágrimas, os atletas em suma estavam em êxtase.

Vale ressaltar os ouvidos atentos da organização da prova para o pós e humildade por buscar pontos onde se possa melhorar. Certeza que estavam satisfeitos e sabiam do grande trabalho realizado, mas eles já olhavam o que poderia ser possível para aumentar uma das mais fantásticas experiências no mundo das corridas.

Depois de cerca de 2 anos posso repetir, mas dessa vez com letras maiúsculas: PROVA APROVADA!

P.S.: Lembram da cachorrinha? Ela conectando o evento as melhores sagas lendárias completa a prova. A direção da prova sabendo do feito, providencia uma medalha para ela e a adota (mas no futuro, a lenda dirá que a Guardiã percorreu todo o trajeto para saber se eles poderiam ser adotados).